Situado no noroeste paulistano, o Parque Estadual do Jaraguá forma um território tradicionalmente habitado pelos Guarani Mbyá, reconhecido pela FUNAI em 2013. Trata-se de uma região de morros, com núcleos urbanos no entorno das estações de trem Jaraguá e Vila Clarice. A TI Jaraguá possui 1,7 hectare, sendo a menor terra indígena do país. Nela, há 6 aldeias (tekoa), a saber, Tekoa Ytu, Tekoa Itakupe, Tekoa Itawera, Tekoa Itaendy, Tekoa Yvyporã e Tekoa Pyau, que oferecem às crianças e adolescentes a escolarização no Centro de Educação e Cultura Indígena (CECI), localizado na Tekoa Pyau.
O CECI Jaraguá é o órgão público responsável pela educação escolar das aldeias da TI Jaraguá. Há, também, organizações não governamentais (Ongs) como o Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e outros coletivos, como a Comissão Yvy Rupa, que assessoram as aldeias em prol do fortalecimento da sua educação.
Professores e aldeias da TI Jaraguá colocam para a sua escola a missão de cultivar os conhecimentos tradicionais (yande rekó), tanto quanto a de propiciar o domínio dos conhecimentos não indígenas. Tendo em vista o desaparecimento gradual dos anciãos (xeramõi), genuínos portadores dos saberes étnicos, a transmissão de saberes e a sensibilização da sociedade civil paulistana assumem maior importância. As aldeias já têm se organizado para a realização de visitas guiadas a grupos escolares e oficinas de ervas.
Diante do crescente interesse da sociedade civil por intercâmbios com as culturas indígenas, as Escolas Vivas Indígenas propõem a efetivação desta demanda, que têm como potencial de resultado a desestabilização dos estereótipos criados a respeito das comunidades Guarani Mbyá de São Paulo.
As escolas vivas têm esse objetivo de viabilizar essa sensibilização da sociedade civil através de múltiplas linguagens: artesanatos, arquiteturas tradicionais, culinária, danças, músicas e do ensino do idioma guarani mbyá.
As populações que habitam tradicionalmente o Parque estadual do Jaraguá oferecem como solução a problemas contemporâneos da sociedade civil, tais como o aumento de pessoas que passam fome bem como de doenças relacionadas a uma péssima alimentação, um melhor aproveitamento dos recursos naturais, diminuindo o consumo de produtos descartáveis. Tais comportamentos podem ser de grande importância ecológica, ao preservar a estrutura e funcionamento de paisagens originais de São Paulo.
Nesse momento, o coletivo Escolas Vivas Indígenas tem se dedicado ,principalmente, à ampliação do espaço Tembiapó Renda, que vem a ser um centro para a realização de oficinas, cursos e confecção de artesanatos, dentro da TI Jaraguá. Uma das indígenas locais que temos apoiado é Cristina Aradjerá.
Desde 2017, colaboramos com os esforços das aldeias por melhorias, quando tivemos a possibilidade de fornecer cerca de 50 mudas de Juçaras à aldeia Itaendy, doadas pelo permacultor Pedro Paine do Sitío Maprê, entre outras inúmeras atividades, estudos e pesquisas.
Com o intuito de apoiar a escolarização em andamento nos CECIs, estamos planejando o oferecimento de oficinas para elaboração da máquina semântica, contando com apoio dos coletivos Diversidades em Espiral e EPARREH.
A máquina semântica é um brinquedo artesanal, formado por um eixo sintagmático, em forma de seta, e eixos paradigmáticos, constituídos de anéis, onde estão as listas de palavras das várias classes gramaticais, organizadas de maneira que fique claro o que representam as classes de palavras e as funções sintáticas, respectivamente.
No primeiro anel, há palavras das classes dos artigos, pronomes e quantificadores, enquanto que no segundo temos os substantivos atuando como sujeito. No terceiro anel estão os verbos e, no quarto, os substantivos que atuam como objeto. Assim, os participantes podem sortear sentenças, ao mesmo tempo em que analisam seu funcionamento.
Tais atividades já foram aplicadas em dez salas de aula de duas escolas públicas. Uma no município de Campos do Jordão (E.E. Theodoro Corrêa Cintra) e outra no município de São Paulo (EMEF Desembargador Amorim Lima).
Com essas oficinas, pretendemos dar oportunidades para que os alunos indígenas participantes reflitam sobre o funcionamento do seu próprio idioma de forma lúdica e intuitiva, aprimorando, assim, suas habilidades de análise linguística e reconhecimento de sentido das diferentes classes gramaticais nas sentenças em guarani mbyá, além de incentivá-los à economia criativa, com a confecção de seus próprios brinquedos, tendo como laboratório o espaço Tembiapó Renda.
Consequentemente, a presença do coletivo é contínua nessas aldeias e tem como missão o desenvolvimento local, visando a autonomia e fortalecimento das comunidades Guarani Mbyá. Abaixo seguem alguns exemplos, de uma parte do que já fomentamos nas atividades extraescolares das aldeias:
Em Abril de 2019, foram realizadas oficinas, exposições e vendas de artesanato Guarani Mbyá na EMEF Desembargador Amorim Lima, localizada na Vila Gomes.
No início de outubro do mesmo ano, executamos o Mutirão para a construção de um banheiro seco, de fossa, em uma das aldeias da região, que contou com doações de xepa provida pelo Instituto Baru.
O apoio técnico também se deu voluntariamente, por parte de integrantes do coletivo Eparreh.
Ainda em outubro, proporcionamos um intercâmbio cultural. Algumas jovens da aldeia participaram de atividades no Parque Chácara do Jockey, e promovemos uma vivência de ecogastronomia com biomassa de banana verde para os indígenas no mesmo período.
O final da construção do banheiro seco coincidiu com a colheita de milho tradicional Guarani, em dezembro.
As atividades já realizadas pelo coletivo também estão disponíves no canal Escolas Vivas, no YouTube.
Os vídeos anteriores formam parte das oficinas realizadas da Festa dos Povos Originários realizada em 27 de Abril de 2019, na EMEF Desembargador Amorim Lima.
A playlist acima se refere ao evento “Educação ambiental e línguas indígenas”, realizado em 26 de Outubro de 2019 na chácara do Jockey por membros do coletivo Escolas Vivas Indígenas junto dos coletivos Diversidades em Espiral e EPARREH, com jovens Guarani Mbyá das aldeias do distrito de Parellheiros.
A partir do mês de agosto de 2020, o coletivo passou a fazer uso da sua rede de parceiros para estimular a produção e venda de plantas comestíveis e chás culivados tradicionalmente nas aldeias do Parque Estadual do Jaraguá, sendo entregues para grupos de consumidores do distrito do Butantã, com destaque para as espécies ora pro nobis, peixinho, capim cidreira e boldo, respectivamente. Cada produto é protegido por embalagens de fibras pintadas com grafismos Guarani Mbyá.
Recentemente, parte dessa colheita também está a venda no Galpão Agroecologico, localizado na avenida Otacílio Tomanik.
Mutirão para a construção do espaço Tembapó rendá
No dia 17 de outubro de 2020, foi realizada a ampliação do quiosque já existente e já usado como espaço cultural, por meio de técnicas convencionais e de bioconstrução. Além dos participantes Guaranis, o mutirão contou com 7 voluntários não indígenas.
Em Novembro, houve acompanhamento dos processos de secagem de ervas e preparo de incensos e defumadores naturais, além da produção de aroeira e abacaxi, realizados por Patrícia Terranova junto de Cristina Ara Djerá.
No mês de Dezembro, a professora Vanessa Flora foi convidada para oferecer aulas de macramê básico com mulheres da aldeia, no dia 15.
As últimas ações do ano fortaleceram a parceria das Escolas Vivas com o Galpão Agroecológico, por meio do Evento de artesanato indígena e do Festival de Peixinho Guarani, realizados pelas líderes Mbyá Cristina Ara e Jaqueline Jacuxa, em 19/12. Houve na mesma data uma exposição e venda de artesanias de aldeias do Jaraguá, preparo de peixinho vegano e vegetariano e, finalmente, a fabricação de molho catchup orgânico com biomassa de banana verde, também produzida na aldeia.